quarta-feira, 29 de julho de 2009

Reportagem - GLOBO.COM

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http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1234058-17083,00-BRASILEIROS+APROVEITAM+POLITICA+E+VIRAM+IMIGRANTES+DE+LUXO+NO+CANADA.html

Esqueça os brasileiros barrados na Inglaterra e na Espanha, esqueça o preconceito sofrido em Portugal, a dificuldade de integração no Japão e a perseguição aos que vivem ilegalmente nos Estados Unidos. Quando chegam ao Canadá, os brasileiros que escolhem ir morar no país mais ao norte do continente americano são bem acolhidos, se integram com a população local e se sentem em casa, tudo como parte de uma política pública que tem o objetivo de atrair estrangeiros em vez de mandá-los embora.

“O Canadá é um país aberto, e nossa integração é muito rápida”, disse ao G1 o consultor brasiliense Fabiano Henriques, que se mudou para lá em julho de 2007 e que já se diz adaptado à realidade do país da América do Norte. O motivo, explicam os imigrantes e o próprio governo do país, é a necessidade de atrair profissionais especializados, que estão em falta no país, por conta especialmente do envelhecimento da população.

“Os canadenses nos recebem bem, pois têm necessidade de aceitar imigrantes, precisam de mão-de-obra. A população do país está envelhecendo e eles selecionam os candidatos que querem se mudar para cá, buscam jovens com experiência em áreas em que há carência de profissionais”, disse o analista de segurança de rede de computadores Patrick Duglay, que completou neste sábado dois anos morando no Canadá, na Cidade de Québec.

Segundo ele, o país tem uma estrutura voltada para o imigrante. Logo ao chegar ao Canadá, ele recebe um número de assistência social e uma carteira de residente permanente com quase todos os direitos que o cidadão canadense tem, tirando os de votar e de se candidatar a cargos públicos. “Somos recebidos por um escritório de imigração que nos apresenta à cultura e à sociedade canadenses, ensina como fazer currículo, como se comportar em entrevistas, oferecem aulas de francês e até bolsas para que estudemos o idioma”, disse.

“O Canadá sempre teve imigração aberta, ao contrário dos outros países”, explicou Hector Vilar, produtor da Rádio Canada International, que vive no país há oito anos e que fez uma cobertura de todo o processo de imigração de Duglay e sua mulher. “Existe uma semelhança grande entre o Canadá e o Brasil nesse sentido, de mistura, de convivência com imigrantes. É muito mais fácil ser imigrante na América do que na Europa. Na Europa o imigrante não se integra, ele sempre é imigrante. No Canadá é como no Brasil, o imigrante é incorporado, não é mal-visto.”

Os outros

Segundo Vilar, entretanto, é preciso lembrar que o Canadá não é um “paraíso” para os imigrantes. “Tem tanto imigrante aqui que é difícil se sentir excluído. Cada brasileiro é mais um imigrante, que se encaixa na sociedade. O imigrante é aceito, mas não é o paraíso, e é claro que existe tensão.”

O consultor de gestão empresarial brasiliense concorda com a ideia e explica que, por mais que a população acolha, sempre é difícil se adaptar. “Continuamos nos sentindo como estrangeiros”, disse, negando, porém, que haja um preconceito visível. “Eles veem brasileiros com bons olhos, sabem que é um país com potencial e que tem muita gente qualificada”, contou. Após chegar ao país, disse, ele esperou um mês para começar a procurar emprego, mas teve cinco entrevistas nos dois meses seguintes e acabou sendo contratado para fazer o mesmo que fazia no Brasil.

Esta qualificação é algo que sempre aparece quando brasileiros que vivem no Canadá falam sobre a migração até o país. Por mais que se diga que o país está aberto, é preciso lembrar que não é qualquer brasileiro que é aceito no país, e que há uma seleção para escolher quem pode ir morar lá. “A imigração está aberta, mas só para quem tem curso superior, experiência de trabalho e fala pelo menos um dos idiomas do país”, disse Vilar. “O brasileiro que vem normalmente é alguém da classe média, com bom nível de educação, construindo carreira, e o processo de integração dessas pessoas não é tão complicado, pois são pessoas preparadas para enfrentar o processo de imigração.”

Duglay, personagem da série organizada pelo próprio Vilar, concorda com a necessidade de uma especialização e de uma carreira, mas tem uma história que vai um pouco na contramão do perfil classe média. “Vim de uma família muito pobre, e chegamos a passar fome de verdade. Comecei a melhorar de vida com o estudo e estava começando a entrar na classe média quando decidi vir para o Canadá.” Ele morava em Embu das Artes, na Grande São Paulo, e havia batalhado para estudar informática e francês para poder emigrar do Brasil. Seu primeiro trabalho no Canadá foi como analista de suporte, mas agora trabalha como analista de segurança de rede, o mesmo que fazia no Brasil antes de se mudar.

Fuga da violência

Na história dos brasileiros ouvidos pelo G1, há uma coincidência em relação aos motivos que os levaram a deixar o país pelo Canadá. Tanto Henriques quanto Duglay citam a violência como o primeiro motivo que os levaram a decidir mudar de país.

“Fui assaltado três vezes, não podia ter um carro, tinha dificuldades para continuar estudando e para crescer profissionalmente”, disse Duglay. Isso tudo, diz, bem na época dos ataques coordenados da quadrilha que age nos presídios, ocorridos em São Paulo em 2006. “Depois disso resolvemos ir embora. Aqui a história é outra, e é difícil até comparar com a violência no Brasil. É praticamente zero.” Ele se mudou com sua mulher, Valéria, e diz que pensa em levar outros parentes para o Canadá quando puder ter a cidadania do país.

Casado e com dois filhos pequenos, Henriques também fala da violência quando justifica sua mudança. Ele conta empolgado que, no Canadá, sua filha de 12 anos às vezes perde sua câmera fotográfica, ou o celular, mas que eles sempre são encontrados e devolvidos por alguém.

Processo

A imigração ilegal é algo que a maior parte dos brasileiros que vivem no Canadá rejeita totalmente. Segundo eles, há muita fiscalização, e não vale a pena, já que a ida com todos os papeis é relativamente fácil.

Eles contam que o processo dura entre um e dois anos, para quem já tem curso superior e fala algo de inglês ou francês. Ele inclui uma seleção feita junto a órgãos como o escritório do Québec, que tem uma sede em São Paulo, e que ajuda a montar o pedido de imigração para o país, a buscar emprego e a organizar a mudança.

Além de todas as facilidades oferecidas pelo governo quando se chega ao país, os brasileiros já começam a formar pequenas comunidades em cidades como Montréal, a própria Cidade de Québec e Toronto, que, segundo Vila, tem o maior número de pessoas do Brasil no país. Segundo o ministério brasileiro das Relações Exteriores, há 20.650 imigrantes brasileiros no Canadá.

Douglay conta que jogava pelada em Montréal e que já tem um grupo de quase 30 pessoas jogando também em Québec. Henriques fala em festas brasileiras, incluindo uma junina. “A gente sente falta de falar português, de comer coxinha, pastel, feijoada, e organizamos encontros para matar essa saudade”, conta.

Em Toronto, além de restaurantes de comida brasileira, sempre acontecem festas com músicas e DJs do Brasil, além de bandas e cantores que fazem fama por aqui. “Toronto é uma cidade super multicultural, e 50% da população que mora lá nasceu em outros países. Os canadenses vivem com o imigrante no dia a dia, aceitam bem, mas eles nem sempre entendem exatamente o que significa para o imigrante se mudar para cá, enfrentar as dificuldades como o clima, que chega a ter temperaturas de 35º negativos”, diz Vilar.

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